Perdão

Perdão: cura e restauração dos relacionamentos familiares

 

Referência: Mt 18.23-35, Lc 17.3-6, Cl 3.12-14

INTRODUÇÃO

1. C. S. Lewis disse que é mais fácil falar sobre perdão do que perdoar. É fácil falar sobre perdão até ter alguém para perdoar. Amar a todos é fácil, o desafio é amar quem nos persegue. Alguém disse: “Eu amo a humanidade, o que eu não tolero são as pessoas”.

2. Isso é um fato: decepcionamos as pessoas e as pessoas nos decepcionam. As pessoas são ladrões da nossa alegria. Sofremos mais por causa das pessoas do que pelas circunstâncias adversas. Exemplo: a mulher que foi abusada sexualmente pelo pai.

3. Vivemos num mundo ferido, doente e cheio de mágoas: entre as nações, entre tribos, entre famílias. Hoje, o divórcio já atinge 50% dos casamentos. O divórcio é fruto da dureza de coração, ou seja, incapacidade de perdoar.

4. O pecado mais presente na igreja é o pecado da mágoa. Exemplos: a mulher da igreja de São Paulo e o pastor da igreja de Toronto.

5. Quem não perdoa adoece. O drama que vivi em 1982 com o assassinato do Hermes.

I. POR QUE DEVEMOS PERDOAR?

1. Porque faz parte da natureza do povo de Deus perdoar – Cl 3:13

Ser cristão é ter uma nova natureza, uma nova mente, um novo coração, uma nova vida. Quem não perdoa é porque ainda não pertence a família de Deus.

2. Porque temos queixas uns contra os outros – Cl 3:13

Ainda não chegamos ao céu. Aqui temos falhamos uns com os outros e precisamos exercitar perdão.

3. Porque temos sido muito perdoados – Cl 3:13

A igreja é a comunidade dos perdoados. Como Deus nos perdoou: Completamente (de tudo), eternamente (para sempre). Deus apagou, afastou, desfez, esqueceu, sepultou do fundo do mar os nossos pecados.

Jesus ilustrou esse perdão na parábola do credor incompassivo. Comparar os 10.000 talentos com 100 denários.

4. Porque a recusa de perdoar traz sérios prejuízos

4.1. Quem não perdoa não pode orar – Mc 11:25; 1 Pe 3:7

4.2. Quem não perdoa não pode adorar – Mt 5:23-24

4.3. Quem não perdoa não pode ser perdoado – Mt 6:12

4.4. Quem não perdoa adoece – Tg 5:16

4.5. Quem não perdoa é flagelado pelos verdugos – Mt 18:34; 2 Co 2:10

II. A TERAPIA DO PERDÃO

1. Há pessoas doentes emocionalmente porque nunca se perdoaram – Fp 3:13

A mulher que viveu 60 anos do cativeiro.

Paulo teve suas memórias curadas.

Doralice – a jovem que tomou soda cáustica

2. Há pessoas doentes porque vivem cativas da mágoa –

A enfermeira de Patrocínio

No dia 7 de dezembro de 1941 Mitsuo Fuchida comandou o ataque à frota americana no Porto Pearl Harbour. Jack de Shaze se dispôs a vingar. Foi preso em Tóquio. Torturado. Converteu-se. Voltou aos Estados Unidos. Preparou-se e voltou para o Japão como missionário. Encontrou Fuchida e o evangelizou. Ambos pregaram em praça pública no Japão. O poder do perdão que reconcilia.

III. OS PRINCÍPIOS DO PERDÃO

1. Cautela – Lc 17:3

Precisamos ter cautela para não sermos injustos e esmagarmos a cana quebrada.

A mulher adúltera foi apanhada pelos fariseus como um objeto, mas foi tratada por Jesus como uma pessoa que merecia seu amor.

Jesus restaurou Pedro não condenando-o ou expondo-o ao ridículo, mas perguntando-o: tu me amas?

2. Confrontação – Lc 17:3

O tempo não é um santo remédio para curar as feridas – Os irmãos de José depois de 22 anos ainda estavam atormentados pelo pecado cometido.

O silêncio não é a voz do perdão – Davi adulterou, tramou, matou, mentiu e silenciou o seu pecado, mas o silêncio o adoeceu. Enquanto não confessou não foi liberto. Sepultar um problema vivo não ajuda. Não adianta tentar afastar a culpa. É preciso arrancar o problema pela raiz. Paulo alertou para o perigo de deixar o sol se pôr sobre a ira.

O confronto precisa ser feito com atitude de amor – A palavra “repreende” é chamar ao lado para consolar. Gálatas 6:1 mostra como devemos confrontar uns aos outros.

3. Arrependimento – Lc 17:3

A mesma língua que feriu, deve passar o bálsamo de Gileade. O arrependimento é mudança de mente, de emoção e de atitude.

4. Perdão – Lc 17:3

Perdoar é esquecer e esquecer não é amnésia, mas não cobrar mais a dívida do outro. É não lançar mais no rosto do outro o que se perdoou.

Perdoar é ficar livre e deixar o outro livre – Exemplo: Corrie Ten Boon.

IV. OS CARACTERES DO PERDÃO

1. O perdão deve ser ilimitado – Lc 17:4

O perdão de Deus é nosso limite. Ele é obra da graça de Deus em nós. Pedro certa feita ficou intrigado não sobre a necessidade do perdão, mas sobre o limite do perdão. E Jesus mostrou que o perdão deve ser ilimitado, como o perdão que recebemos de Deus (Mt 18:21).

O perdão de Deus é o nosso referencial – “Perdoa-nos as nossas dívidas assim como perdoamos os nossos devedores” (Mt 6:12). O profeta Oséias demonstrou o amor e o perdão de Deus ao povo de Israel perdoando sua esposa Gômer.

2. O perdão é restaurador – Lc 17:4

O perdão às vezes é unilateral – A pessoa quer o nosso perdão. Então, nós tiramos a farpa da mágoa do nosso coração e não nos deixamos azedar.

O perdão restaura os laços quebrados – O perdão não apenas zera as contas do passado, mas restaura plenamente o relacionamento no presente – Exemplo: O filho pródigo foi restaurado pelo pai.

3. O perdão é transcendente – Lc 17:5

Só o Senhor pode nos capacitar a perdoar – Só Jesus pode curar o nosso coração da mágoa.

Precisamos pedir a Jesus que aumente a nossa fé – Uma pessoa que tem uma fé trôpega não consegue perdoar. A fé vem pelo ouvir a Palavra.

Todos nós estamos aquém do padrão de Deus – “Senhor, aumenta-nos a fé”.

V. O PROCESSO DO PERDÃO

1. Rejeite idéias de desforra – Rm 12:17,21

Jesus não revidou ultraje com ultraje (I Pe 2:21-23; Is 53:7).

José do Egito – Gn 50:20

2. Tome a iniciativa para a solução do problema

Não importa se você é o ofensor ou o ofendido, cabe-lhe a iniciativa de desencadear o processo da cura pelo perdão (Mt 5:23-24).

A experiência de Jonathan Gofforth em Xangai e o avivemento chinês.

3. Evite as desculpas e racionalizações

a) Ninguém é perfeito, errar é humano – É justamente porque somos imperfeitos é que precisamos pedir perdão.

b) A ofensa foi tão pequena – Os grandes problemas conjugais são formados de pequenos problemas não resolvidos. São as rapozinhas que devastam a vinha.

c) Aconteceu há tanto tempo – O tempo não cura memórias amargas – Esaú e Jacó – depois de 20 anos a consciência de Jacó ainda estava pesada.

d) A outra pessoa estava mais errada do que eu – O perdão concentra-se no nosso erro e não no erro do outro.

e) Eu estava errado, mas você também estava – O mais provável é que vez de curar a relação, ela fique ainda mais ferida.

f) A pessoa não vai me entender – Vai sim, se você for com a atitude correta e com as palavras certas. A palavra branda desvia o furor.

g) Envolve dinheiro que eu não tenho – Perdão envolve restituição (Zaqueu).

h) A pessoa envolvida já mudou – Telefone, escreva, visite.

i) Vou deixar para depois – A procrastinação adoece ainda mais a relação.

j) Nunca mais farei isto: basta a minha disposição – Isso é meio arrependimento: O que encobre as suas transgressões jamais prosperará, mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia.

4. Formas erradas de pedir perdão

a) Desculpe-me qualquer coisa – Na prática esta expressão significa: “Não estou vendo nenhum problema, mas como você é uma pessoa cismada e rancorosa, resolvi perdão do que não fiz”.

b) Desculpe-me, foi sem querer – Se foi sem querer não carece de perdão, a menos que a outra pessoa tenha ficado magoada.

c) Eu estava errado, mas você também estava – A ideia básica de pedir perdão é um ato de contrição e arrependimento. Essa atitude reacende as paixões.

d) Se eu estava errado, desculpe-me – Essa atitude não tem convicção de pecado. Ela representa: “Eu sei que não estou errado. A dúvida é sua, não minha.”

CONCLUSÃO

1. Não envolva outras pessoas – Não transforme em fofoca aquilo que poderia ser um exercício de privacidade e perdão. Não jogue uma pessoa contra a outra. Espalhar contendas entre os irmãos é o pecado que Deus mais abomina.

2. Seja breve, claro. Não se justifique – Vá direto ao assunto. O filho pródigo ensaiou o seu pedido de perdão.

3. Não seja esnobe – Seja humilde. Não exalte suas virtudes.

4. Não exija justiça, exerça misericórdia – Perdão é um ato de graça. Sofra o dano. Estêvão orou: “Senhor Jesus, não lhes imputes este pecado”.

Hernandes Dias Lopes

 

Fonte: http://hernandesdiaslopes.com.br/perdao-cura-e-restauracao-dos-relacionamentos-familiares/